sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sonho vangoghiano de Akira Kurosawa

Neste fim-de-semana em que o sol espreita, não percam um exemplo de como a alta tecnologia pode estar ao serviço do bom gosto.
 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

domingo, 27 de janeiro de 2013

Porque é que eu fui à manifestação de professores

Não gosto de pagar pelos erros que os outros cometem e/ou cometeram. Não gosto que ponham os trabalhadores do setor privado contra os funcionários públicos. Não gosto que tentem destruir, por questões meramente economicistas, a escola que eu ajudei a construir. Não admito que apontem os ditos privilégios dos funcionários públicos, ainda por cima da parte de quem vem esses apontamentos. Não admito que continuem a espoliar o meu ordenado, o qual recebo em troca de um trabalho honesto e dedicado. Não admito que continuem a congelar a minha progressão na carreira, na qual fiz um percurso sério e sem favorecimentos político-partidários ou outros. Não admito que despeçam colegas que tanto têm dado à escola pública. Não admito que pensem sequer reforçar a privatização do ensino, ainda por cima a grupos tipo GPS. Não admito que duvidem do meu profissionalismo.
Não sou político, nem banqueiro… sou um professor e com muito orgulho. Por tudo isto e mais aquilo que tenho dificuldade de expressar, fui de novo à manifestação. Não fui por filiações político-partidárias… não fui por filiação sindical… fui somente por ser professor… fui somente por ser cidadão.
Mais do que por direito, fui por DEVER. Em meu nome e em nome de todos aqueles que têm a sua carreira, o seu vencimento, o seu emprego em causa. Em nome da defesa da escola que com sacrifício e empenho tenho tentado ajudar a construir. Em nome da educação que está cada vez mais a ser hipotecada, e com ela, o nosso futuro.
Fiquei satisfeito por ver tantos colegas que fizeram mais uma vez uma longa viagem para estarem presentes. Fiquei triste por não ver outros cuja viagem seria certamente mais curta.
Estive lá e mais uma vez com o orgulho de ter participado em mais uma manifestação reveladora de grande civismo.
Desculpem-me o desabafo, mas de vez em quando sabe bem fazê-lo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Os professores

Numa época em que fala sobre tantas coisas, nomeadamente sobre a educação, publico aqui um texto fabuloso sobre os professores, partilhado por uma excelente professora... Mª José Leite. Obrigado, minha amiga.

Os professores



Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade. A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito... Ver mais de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar. Nunca tive exatamente de ensinar ninguém.

Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões.

Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. Houve um dia, numa aula de História do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga.

Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes. Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível. Dá –me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior o que comer apenas sopa todos os dias. Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.

Texto de Valter Hugo Mãe

Jornal de Letras, 19 Set 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

A reportagem da TVI sobre o ensino privado

Provavelmente esta reportagem já foi visionada... 
Numa altura em que os dinheiros públicos escasseiam e que surgem cada vez mais rumores sobre a dita privatização (parcial ou total) na área da educação, penso que vale a pena ocupar cerca de meia hora a ver este trabalho da TVI sobre o ensino privado, em particular sobre os colégios do grupo GPS.
Faço questão de referir que nada me move contra as escolas privadas; que esta reportagem aborda um grupo empresarial que gere alguns colégios e não é portanto passível de podermos generalizar a todas as escolas de ensino privadas.
Faço no entanto também questão de referir que os rankings das escolas estão viciados quando comparam escolas com realidades tão distintas, sobretudo as do ensino privado que se permitem selecionar os alunos das escolas públicas da zona com mais condições para melhorar os resultados ou mesmo ostracizar alunos que fazem perigar os ditos resultados, seja por aproveitamento ou por comportamento, remetendo-os para as mesmas escolas públicas da zona. 
Porque parte dos dinheiros envolvidos no financiamento destas escolas são de todos nós (contratos de associação com o Estado) então este assunto é de natureza pública e não é de mais ser visto e analisado, também à luz das "fortes relações" entre ex-governantes e atuais políticos com este grupo GPS.
 
  

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

São apenas dois minutos...

Extraordinário, é como se pode apelidar este resumo fotográfico que mostra detalhadamente a história do nosso mundo!!
São apenas dois minutos, sem textos… apenas fotos.
Não pestanejem sequer… fechar os olhos por dois segundos faz perder centenas ou milhares de anos.
Cliquem para visualizar em ecrã inteiro, porque vale mesmo a pena!
Muito obrigado, Eduarda, por esta partilha.
Um excelente fim-de-semana :)

sábado, 12 de maio de 2012

Acerca da desmotivação dos alunos


Este artigo do António Galrinho, que anda a circular nos nossos e-mails e por variados blogues, toca de novo num aspecto fundamental do nosso sistema educativo... e não só.

Por isso, subscrevo o seu conteúdo e contribuo para a sua divilgação. Acrescentaria: desmotivação... é dos professores!

" De uma vez por todas se caia na realidade e se deixe de pedir aos professores aquilo que não lhes compete. Estratégias para isto, estratégias para aquilo; lidar com a indisciplina, lidar com a desmotivação. Aos professores não se deve pedir que arranjem estratégias para resolver esses problemas, pois isso é admitir que eles são situações normais, correntes e com tendência a perpetuar-se. Simplesmente não se pode admitir que eles existam como norma.

A escola pública oferece um ensino gratuito (gratuito!), à exceção da aquisição do material escolar), onde os alunos podem usufruir de refeições a um preço pouco mais do que simbólico, em regra com bons e ótimos equipamentos e professores. Os alunos mais carenciados têm comparticipação parcial ou total na aquisição dos seus materiais, nas refeições e nos transportes. De um modo geral os programas são adequados às faixas etárias e ao tipo de sociedade que é o nosso. Estas condições por si só não são mais do que satisfatórias para que os alunos e as suas famílias se sintam naturalmente motivados? De que raio de motivação extra precisam os alunos?

Em África, na Ásia e na América Latina há centenas de milhões de crianças e jovens que frequentam escolas (os que têm essa sorte) em condições miseráveis. E aí muitos deles estão bem mais motivados do que os nossos. Serão os seus professores melhores do que nós? Possuirão eles as tais estratégias mágicas que nós, tecnologicamente apetrechados, não conseguimos vislumbrar?

É mais do que evidente que a motivação é uma treta quando colocada nas mãos dos professores, mas uma realidade quando olhamos para os sítios onde reside a sua génese: na sociedade em geral, nas famílias, em quem nos governa e na legislação obtusa que se produz. Por isso, os professores não têm que motivar quando não há motivos de origem pedagógica para o tipo de desmotivação com que deparam.

A mesma reflexão deve ser feita em relação à indisciplina, que também não é um problema que o professor tenha que resolver. A indisciplina é uma questão que, simplesmente e em circunstâncias normais, não deveria existir! Em circunstâncias normais, para resolver problemas pontuais de indisciplina o professor deveria precisar apenas de uma palavra: "Rua!"

Se houver comportamentos desadequados nas salas de espera e nos gabinetes médicos dos hospitais serão os médicos a resolvê-las? Se a mesma coisa acontecer numa repartição de finanças são os funcionários que vão resolver? Num restaurante, num meio de transporte, numa sala de espetáculos...?

Ora, o professor não tem que motivar nem disciplinar, tem apenas que ensinar, que é aquilo que se lhe pede cada vez menos. Nessas matérias peçam-se, pois, responsabilidades a quem realmente as tem, senão daqui a 50 anos quem cá estiver estará ainda a falar do mesmo."

António Galrinho