sábado, 12 de maio de 2012

Acerca da desmotivação dos alunos


Este artigo do António Galrinho, que anda a circular nos nossos e-mails e por variados blogues, toca de novo num aspecto fundamental do nosso sistema educativo... e não só.

Por isso, subscrevo o seu conteúdo e contribuo para a sua divilgação. Acrescentaria: desmotivação... é dos professores!

" De uma vez por todas se caia na realidade e se deixe de pedir aos professores aquilo que não lhes compete. Estratégias para isto, estratégias para aquilo; lidar com a indisciplina, lidar com a desmotivação. Aos professores não se deve pedir que arranjem estratégias para resolver esses problemas, pois isso é admitir que eles são situações normais, correntes e com tendência a perpetuar-se. Simplesmente não se pode admitir que eles existam como norma.

A escola pública oferece um ensino gratuito (gratuito!), à exceção da aquisição do material escolar), onde os alunos podem usufruir de refeições a um preço pouco mais do que simbólico, em regra com bons e ótimos equipamentos e professores. Os alunos mais carenciados têm comparticipação parcial ou total na aquisição dos seus materiais, nas refeições e nos transportes. De um modo geral os programas são adequados às faixas etárias e ao tipo de sociedade que é o nosso. Estas condições por si só não são mais do que satisfatórias para que os alunos e as suas famílias se sintam naturalmente motivados? De que raio de motivação extra precisam os alunos?

Em África, na Ásia e na América Latina há centenas de milhões de crianças e jovens que frequentam escolas (os que têm essa sorte) em condições miseráveis. E aí muitos deles estão bem mais motivados do que os nossos. Serão os seus professores melhores do que nós? Possuirão eles as tais estratégias mágicas que nós, tecnologicamente apetrechados, não conseguimos vislumbrar?

É mais do que evidente que a motivação é uma treta quando colocada nas mãos dos professores, mas uma realidade quando olhamos para os sítios onde reside a sua génese: na sociedade em geral, nas famílias, em quem nos governa e na legislação obtusa que se produz. Por isso, os professores não têm que motivar quando não há motivos de origem pedagógica para o tipo de desmotivação com que deparam.

A mesma reflexão deve ser feita em relação à indisciplina, que também não é um problema que o professor tenha que resolver. A indisciplina é uma questão que, simplesmente e em circunstâncias normais, não deveria existir! Em circunstâncias normais, para resolver problemas pontuais de indisciplina o professor deveria precisar apenas de uma palavra: "Rua!"

Se houver comportamentos desadequados nas salas de espera e nos gabinetes médicos dos hospitais serão os médicos a resolvê-las? Se a mesma coisa acontecer numa repartição de finanças são os funcionários que vão resolver? Num restaurante, num meio de transporte, numa sala de espetáculos...?

Ora, o professor não tem que motivar nem disciplinar, tem apenas que ensinar, que é aquilo que se lhe pede cada vez menos. Nessas matérias peçam-se, pois, responsabilidades a quem realmente as tem, senão daqui a 50 anos quem cá estiver estará ainda a falar do mesmo."

António Galrinho

4 comentários:

Maria Eduarda Conde disse...

EXCELENTE!

Luís Sérgio disse...

Caro João !
Obrigado pela partilha, na verdade continua a pedir-se tudo aos professores e eles aceitam. Agora, até querem que sirvam o pequeno almoço às crianças. E uma certa esquerda desvairada aplaude, confundindo luta social, com caridadezinha na escola. Concordo com o autor do texto, a escola tem de ensinar. O resto ou são tretas ou desculpas para nada fazer. Os problemas sociais resolvem-se na luta política e apoiar ou descriminar positivamente, não significa, não deve significar, transformar a escola em S.Casa da Misericórdia.
Os professores, cada vez mais, trabalham muitas mais horas e por mais paradoxal que pareça, cada vez ensinam menos. Utilizar o verbo ENSINAR na escola é quase pornográfico. Deixou de se ensinar e aumentou exponencialmente o número de palavrões.
Grande abraço,
Luís Sérgio

Anónimo disse...

Perfeitamente de acordo com a opinião do autor.
Na realidade, hoje em dia, ENSINAR passou a ser uma miragem. Cada vez mais o professor tem outras solicitações para resolver o que a ele não respeita resolver, mas à família, à sociedade...

IV

Anónimo disse...

Passei por aqui, li a mensagem e devo dizer que realmente, quem necessita de motivação é o progessor, mas devo dizer que ao professor com "P" não deve ser pedido, pois a sua postura na aula motiva os alunos.
Ou seja, ao "verdadeiro" professor, aquele que tem o ensino como forma de estar na vida, não lhe é pedido para motivar os alunos...