quinta-feira, 29 de março de 2012

O desastre da educação


Estamos de novo a vivenciar um período de alterações no sistema educativo. Para quem já anda nos meandros deste sistema há largos anos, dá um pouco a sensação de estarmos no carrossel e ouvirmos aquela voz típica a anunciar “mais uma voltinha”. Queremos acreditar que algo vai mudar para melhor… há no entanto muitas coisas que não mudam por despacho ou por decreto… estou a falar de mentalidades!
Apesar de já ter sido publicado no jornal Expresso no passado dia 28/01/2012, e possivelmente já lido por muitos, achei particularmente interessante partilhar este artigo do Luís Cabral, Professor da Universidade de Nova Iorque e da AESE, intitulado O desastre da educação.
"O principal culpado pelo desastre da educação em Portugal é você. Sim, refiro-me ao encarregado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar que o fracasso do processo começa em casa.
O valor de uma economia é o valor do seu capital humano. Por isso o sistema educativo é tão importante. Por isso o estado lastimoso da economia portuguesa tem muito que ver como o estado lastimoso da educação.
Não faltam 'culpados' para este desastre: uns dizem que o problema é o 'eduquês', outros que são os professores, ou o sindicado dos professores, ou o Ministério, ou o clima, ou a água da torneira, ou sei lá o quê.
Não nego que sejam causas importantes, mas o principal culpado pelo desastre da educação em Portugal é você. Sim, refiro-me a você, encarregado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar que o fracasso do processo educativo começa em casa, Os principais responsáveis pela educação não são os professores mas sim os próprios pais. É claro que são os professores que dão as aulas, que sabem ensinar Português e Matemática, História e Geografia. Mas todo este esforço vale pouco ou nada se não começa num ambiente familiar que dá valor ao esforço e à disciplina que uma boa educação exige.
A única desculpa que vejo para os nossos encarregados de educação é que estamos perante uma questão 'cultural'. A mentalidade do 'desenrasque' e do 'chico esperto' também se manifesta na escola: um gaba-se do seu 'novo' método de ‘copianço’ como se se tratasse de uma conquista amorosa; outro orgulha-se por ter passado a cadeira "sem estudar praticamente nada"; e o aluno mais cool é o que se lembra de mais 'partidas' durante as aulas.
Mas o pior não é tanto a atitude dos adolescentes como a reação dos adultos: o sorriso que traduz uma certa nostalgia ("ah, se soubesses o que eu fazia quando tinha a tua idade"); o piscar de olho que manifesta aprovação ("assim é que é!"); ou simplesmente a indiferença.
O melting pot que são os Estados Unidos serve como teste da minha teoria, que pode não ser 'politicamente correcta' mas é simplesmente correcta: as etnias com melhor prestação escolar (os judeus, os coreanos, os vietnamitas, etc.) são as que têm culturas familiares que valorizam a educação. Talvez os genes contem alguma coisa, mas neste caso o ambiente claramente se sobrepõe aos cromossomas: nurture vence nature.
Não é o ministro da Educação nem o Ministério da Educação que resolverá o problema; nem as reformas curriculares dos teóricos da educação; nem os professores nem o sindicato dos professores; nem as escolas públicas nem as escolas privadas. A melhoria da educação em Portugal começa e continua com você, encarregado de educação. Como? Evitando a mentalidade outsourcing da educação ("a escola que trate disso, é para isso que pago impostos e propinas"); exigindo esforço do filho (embora seja muito mais fácil ser o 'pai popular' do que o 'pai exigente'); e exigindo resultados da escola (neste sentido a maior concorrência entre escolas é uma das medidas positivas deste Governo).
Estamos perante uma reforma que demora pelo menos uma geração. Estamos assim mais do que 25 anos atrasados, pelo que temos de começar quanto antes. O objectivo é monumental mas acessível: mudar a atitude perante o esforço do estudo, filho a filho."

domingo, 11 de março de 2012

O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa

Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.

Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.

Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.

Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de “k”.

Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”. Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não? O “x” xama-se “xis”. Poix é iso mexmo qe fiqa.

Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.

Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex. Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex. O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.

No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.

Vejamox o qaso do som “j”. Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”. Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”. Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.

É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?

Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.

A qextão a qoloqar é: á alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.

É o qazo da letra “a”. Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado. Nada a fazer.

Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”. Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o “u”? Para u uzar, não? Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.

Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”. U mexmu para u som “ê”. Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”. I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex.

Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.

Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.

Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?