Estamos de novo a vivenciar um período de
alterações no sistema educativo. Para quem já anda nos meandros deste sistema
há largos anos, dá um pouco a sensação de estarmos no carrossel e ouvirmos aquela
voz típica a anunciar “mais uma voltinha”. Queremos acreditar que algo vai mudar
para melhor… há no entanto muitas coisas que não mudam por despacho ou por
decreto… estou a falar de mentalidades!
Apesar de já ter sido publicado no jornal
Expresso no passado dia 28/01/2012,
e possivelmente já lido por muitos, achei particularmente interessante partilhar
este artigo do Luís Cabral, Professor da Universidade de Nova
Iorque e da AESE, intitulado O desastre da educação.
"O principal
culpado pelo desastre da educação em Portugal é você. Sim, refiro-me ao
encarregado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar
que o fracasso do processo começa em casa.
O valor de uma economia é o valor do seu capital humano. Por
isso o sistema educativo é tão importante. Por isso o estado lastimoso da
economia portuguesa tem muito que ver como o estado lastimoso da educação.
Não faltam 'culpados' para este desastre: uns dizem que o
problema é o 'eduquês', outros que são os professores, ou o sindicado dos
professores, ou o Ministério, ou o clima, ou a água da torneira, ou sei lá o
quê.
Não nego que sejam causas importantes, mas o principal
culpado pelo desastre da educação em Portugal é você. Sim, refiro-me a você,
encarregado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar
que o fracasso do processo educativo começa em casa, Os principais responsáveis
pela educação não são os professores mas sim os próprios pais. É claro que são
os professores que dão as aulas, que sabem ensinar Português e Matemática,
História e Geografia. Mas todo este esforço vale pouco ou nada se não começa
num ambiente familiar que dá valor ao esforço e à disciplina que uma boa
educação exige.
A única desculpa que vejo para os nossos encarregados de
educação é que estamos perante uma questão 'cultural'. A mentalidade do
'desenrasque' e do 'chico esperto' também se manifesta na escola: um gaba-se do
seu 'novo' método de ‘copianço’ como se se tratasse de uma conquista amorosa;
outro orgulha-se por ter passado a cadeira "sem estudar praticamente
nada"; e o aluno mais cool é
o que se lembra de mais 'partidas' durante as aulas.
Mas o pior não é tanto a atitude dos adolescentes como a
reação dos adultos: o sorriso que traduz uma certa nostalgia ("ah, se
soubesses o que eu fazia quando tinha a tua idade"); o piscar de olho que
manifesta aprovação ("assim é que é!"); ou simplesmente a
indiferença.
O melting pot que
são os Estados Unidos serve como teste da minha teoria, que pode não ser
'politicamente correcta' mas é simplesmente correcta: as etnias com melhor prestação
escolar (os judeus, os coreanos, os vietnamitas, etc.) são as que têm culturas
familiares que valorizam a educação. Talvez os genes contem alguma coisa, mas
neste caso o ambiente claramente se sobrepõe aos cromossomas: nurture vence nature.
Não é o ministro da Educação nem o Ministério da Educação que
resolverá o problema; nem as reformas curriculares dos teóricos da educação;
nem os professores nem o sindicato dos professores; nem as escolas públicas nem
as escolas privadas. A melhoria da educação em Portugal começa e continua com
você, encarregado de educação. Como? Evitando a mentalidade outsourcing da educação ("a
escola que trate disso, é para isso que pago impostos e propinas");
exigindo esforço do filho (embora seja muito mais fácil ser o 'pai popular' do
que o 'pai exigente'); e exigindo resultados da escola (neste sentido a maior
concorrência entre escolas é uma das medidas positivas deste Governo).
Estamos perante uma reforma que demora pelo menos uma
geração. Estamos assim mais do que 25 anos atrasados, pelo que temos de começar
quanto antes. O objectivo é monumental mas acessível: mudar a atitude perante o
esforço do estudo, filho a filho."