Este artigo do António Galrinho, que anda a circular nos nossos e-mails e por variados blogues, toca de novo num aspecto fundamental do nosso sistema educativo... e não só.
Por isso, subscrevo o seu conteúdo e contribuo para a sua
divilgação. Acrescentaria: desmotivação... é dos professores!
" De uma vez por todas se caia na realidade e se deixe de
pedir aos professores aquilo que não lhes compete. Estratégias para isto, estratégias
para aquilo; lidar com a indisciplina, lidar com a desmotivação. Aos
professores não se deve pedir que arranjem estratégias para resolver esses
problemas, pois isso é admitir que eles são situações normais, correntes e com
tendência a perpetuar-se. Simplesmente não se pode admitir que eles existam
como norma.
A escola pública oferece um ensino gratuito (gratuito!), à exceção
da aquisição do material escolar), onde os alunos podem usufruir de refeições a
um preço pouco mais do que simbólico, em regra com bons e ótimos equipamentos e
professores. Os alunos mais carenciados têm comparticipação parcial ou total na
aquisição dos seus materiais, nas refeições e nos transportes. De um modo geral
os programas são adequados às faixas etárias e ao tipo de sociedade que é o
nosso. Estas condições por si só não são mais do que satisfatórias para que os
alunos e as suas famílias se sintam naturalmente motivados? De que raio de
motivação extra precisam os alunos?
Em África, na Ásia e na América Latina há centenas de milhões de
crianças e jovens que frequentam escolas (os que têm essa sorte) em condições
miseráveis. E aí muitos deles estão bem mais motivados do que os nossos. Serão
os seus professores melhores do que nós? Possuirão eles as tais estratégias
mágicas que nós, tecnologicamente apetrechados, não conseguimos vislumbrar?
É mais do que evidente que a motivação é uma treta quando colocada
nas mãos dos professores, mas uma realidade quando olhamos para os sítios onde
reside a sua génese: na sociedade em geral, nas famílias, em quem nos governa e
na legislação obtusa que se produz. Por isso, os professores não têm que
motivar quando não há motivos de origem pedagógica para o tipo de desmotivação
com que deparam.
A mesma reflexão deve ser feita em relação à indisciplina, que
também não é um problema que o professor tenha que resolver. A indisciplina é
uma questão que, simplesmente e em circunstâncias normais, não deveria existir!
Em circunstâncias normais, para resolver problemas pontuais de indisciplina o
professor deveria precisar apenas de uma palavra: "Rua!"
Se houver comportamentos desadequados nas salas de espera e nos
gabinetes médicos dos hospitais serão os médicos a resolvê-las? Se a mesma
coisa acontecer numa repartição de finanças são os funcionários que vão
resolver? Num restaurante, num meio de transporte, numa sala de espetáculos...?
Ora, o professor não tem que motivar nem disciplinar, tem apenas
que ensinar, que é aquilo que se lhe pede cada vez menos. Nessas matérias
peçam-se, pois, responsabilidades a quem realmente as tem, senão daqui a 50
anos quem cá estiver estará ainda a falar do mesmo."
António Galrinho